sexta-feira, 1 de abril de 2011

O difícil é ser total!

       

"Os meus Parangolés podem ser mais facilmente apreendidos num contexto como o do programa do Chacrinha ou a quadra da Escola de Samba da Mangueira do que numa galeria de arte.
Uma coisa é viva: o programa do Chacrinha; as outras são paliativos impostos por uma burguesia agonizante para impingir o seu status à coletividade, seu gosto e sua moral agonizantes e improdutivos.
Daí então vem Flávio Cavalcanti condenar, por exemplo, a música caipira: “Isso é ruim”, esperneia ele; “ouça Marcos Valle, isto é bom!”. E por aí vai, como se o fenômeno criador fosse algo controlado segundo um padrão de gosto, de bem e de mal, e outros cacoetes burgueses e intelectualóides. Há algum tempo não ouvia os discos de Ângela Maria. Deu-me repentina vontade de ouvi-los. Achei-os mais belos do que nunca. Ângela é realmente genial, integra, total, quando canta vive. Pois criaram aí o mito de que Ângela Maria é cafona, ruim, é submúsica, etc., conceitos que não existem.
Essas pessoas são as mesmas que outrora condenavam tudo de bom: hoje continuam do mesmo modo. Por quê? Obra de quem escolhe ou diz isso é bom, aquilo é ruim: os criticóides, a burrice entronizada em alguns jornais e revistas, e os grupinhos semi-intelectualizados da classe média- os burgueses que acham a dama do high society elegantíssima (para mim ela é que de uma cafonice exemplar).
É impossível que as vivências que tenho sejam falsas, pensava eu outro dia. Por que é que se fecham as pessoas em conceitos? Adoro os Beatles ou Roberto Carlos, Chico Buarque ou Caetano, Clementina ou Cartola, Luís Gonzaga ou Billy Holliday, Mangueira ou Portela. O difícil é ser total. "
                                                                                        ~ Hélio Oiticica

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